Começo este
texto pelo que queria que fosse o fim, citando a fala de uma pessoa do público:
“Todo mundo faz coco”.
A partir
desta frase claramente filosófica, pontuando um niilismo pós-moderno, contudo não menos cômico,
assim como a figura do palhaço (uma figura vista duplamente de forma melancólica
e alegre, não é isso?..) continuo uma discussão acontecida no dia de hoje através da maneira
que tenho de me expressar, que é a escrita neste espaço.
Segundo a
fala de Adriana Schneider, o Anjos do Picadeiro é um espaço específico
fundamental na legitimação do palhaço no Brasil e no mundo, visto que é um
evento de proporção internacional. O Anjos potencializa a discussão em torno
dessa figura e se faz um lugar de troca de saberes intelectuais (da ordem do
pensamento) e práticos (da ordem do fazimento), levando essas discussões a
sério. Pois bem, falando dessa forma parece haver uma busca por uma técnica,
quase na necessidade de construção de uma poética da palhaçaria na consolidação
do palhaço.
Para alguns
muitas dessas discussões parecem não levar a nenhum lugar a não ser conduzir
para um beco intelectualóide. Há um formato anterior que desconheço do
encontro, porém durante esses dezesseis anos ele vem consolidando-se da forma
como vim a conhecer. Por quê? Por que não uma grande arena onde todos possuem a
palavra? Por que não há apenas oficinas, para que o conhecimento prático seja
passado? Por que aquelas quatro (respeitosas; repito, respeitosas) figuras
devem ficar atrás de uma mesa, acima da plateia, falando através de microfones?
Não posso
responder nenhuma dessas questões, nem outras tantas, de maneira objetiva.
Posso apenas colocar que, se é dessa forma, isso se dá pelas diversas
solicitações dos diversos atravessamentos que perpassam aquilo que nomeamos “Encontro
Internacional de Palhaços Anjos do Picadeiro 11: A alegria é a prova dos onze?”.
O encontro atrai a atenção de diversas pessoas não pertencentes ao mundo da palhaçaria
e reverbera nas várias individualidades ali presentes e, desta forma, nas não
presentes também.
Claro que
esse formato também detona com um formato anárquico (em um sentido político, ou
não; como vocês acharem melhor), até porque se o encontro se inscreve como um
lugar de legitimação, o faz na tentativa de se justificar perante o sistema
vigente, se legalizar para a sociedade atual, tornar o ofício político no
círculo das políticas.
Bem, cada
um tem suas convicções. O encontro é uma multiplicidade de convicções que se
sobrepõem, se amalgamam, se destroem e se constroem. O encontro também tem suas
convicções. Elas se constituem entre caos e ordem, se constroem nos encontros e
nas turbulências. Se dão em obras escritas, faladas e atuadas, exigem espaço e
tempo; exigem dispersão e união; exigem formatos, descolamentos, desfazimentos,
repaginações e porque não, muita merda.
O que seria
do palhaço, ou melhor, o que seria do humano (olha a bosta do humos aí), se não se falasse tanta merda. Jogado o esterco no ventilador, foi impossível não pensar. Qual é,
afinal de contas, a função do palhaço? Qual a função desse encontro? Onde estou?
Quem sou eu? ...e todas aquelas outras diversas perguntas úteis para uns e
inúteis para outros. Uma coisa é certa: todo mundo caga. Até a Madonna. Até a
Xuxa. Até o Justin Bieber (meninas, podem acreditar). E cagar é o melhor remédio.
Obs.: Para
não perder o costume, vou enfiar-lhes uma citação abaixo: “A partilha do
sensível é o sistema de evidências sensíveis que revela, ao mesmo tempo, a
existência de um comum e dos recortes
que nele definem lugares e partes respectivas. Uma partilha do comum fixa
portanto, ao mesmo tempo, um comum
partilhado e partes exclusivas. [...] A partilha do sensível faz ver quem pode
tomar parte no comum em função daquilo que faz, do tempo e do espaço que essa
atividade exerce. Assim, ter esta ou aquela ‘ocupação’ define competências ou
incompetências para o comum. Define o fato de ser ou não visível num espaço
comum, dotado de uma palavra comum etc.” (Rancière)
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