O número 11 vem
roubando o prestígio do 13 no que diz respeito a maus agouros. Além do famoso
11 de setembro de 2011, há outros 11s de setembro como a tomada da ditadura no
Chile em 1973 e também o atentado nas olimpíadas de Munique em 1972. O tsunami no Japão foi num 11 de março.
A tragédia em Nova
Friburgo, internacionalmente conhecida, ocorreu em 11 de janeiro de 2011.
Por capricho dos
números (e porque dizem que Deus criou tudo a peso e medida), no ano do fim do
mundo a 11ª edição dos Anjos do Picadeiro aporta exatamente nesta cidade!
“Porque é primavera!”,
nos explica o profeta Tim Maia, cantado aos berros por João Artigos durante a
subida do Rio pra Nova Friburgo, no último sábado, no afã de chegar a tempo da
estreia da versão serrana dos Anjos do Picadeiro, que ocorreu na praça Demerval
Barbosa (a famosa pracinha do centro da cidade).
Sim, chegamos a
tempo... de ver o último número da tarde, apresentado pelos Grandes Seres da
Montanha! Tempo de tirar fotos e botar no instagram, tempo de encontrar o poeta
Flavio Nascimento, de ser recebido por Beto Grillo, de prestigiar Marta Carbayo
no Teatro Municipal logo mais à noite, de dar uma pinta na Praça do Suspiro, de
ouvir hip-hop e samba e testemunhar um relato apaixonado de Ivan Prado e João
Artigos sobre o grandioso Nani Colombaioni (a mesma história que foi rapidamente
contada ontem por João na palestra do Teatro de Anônimo no Teatro Nelson
Rodrigues – mas esse é um outro e mesmo assunto!).
Se Friburgo é a cidade
das flores, e se a flor é o coração do palhaço, e se falando merda a gente
aduba a vida, é claro que o solo friburguense é um esterco fértil para
girassóis como Cia Arteira, Grandes Seres da Montanha, Circo a Céu Aberto, Palhaçarte,
Abelhito e Sucata, Trupe Família Clown... e muitas outras trupes que fazem da
cidade um celeiro incrível de palhaçaria.
Friburgo, inclusive,
criou uma tradição de palhaços, porque, minha gente, é muito palhaço que mora
lá, hein? Não consigo nem começar a listar... fora os que nasceram lá e moram
no Rio e vivem fazendo essa ponte, não só na cidade mas em toda a região. Me
parece um caso singular.
É também curiosíssimo e
instigante que, num caso único de poesia, Carlos Drummond de Andrade descreva
Nova Friburgo em um único verso, lá pelos idos dos anos 40: “Esqueci um ramo de
flores no sobretudo.”
A nossa região serrana
é assim: florida e fresca!, repleta de gente bacana, um lugar de intercâmbio de
artistas de todo o mundo e que inspira arte e amor à natureza. A memória da
tragédia ocorrida recentemente e o medo que as pessoas ainda guardam da
necessária chuva precisam ser sobrepujados pelo sentimento de esperança, de
reconstrução, de amor e respeito ao próximo, em última análise, de alegria.
Os Anjos do Picadeiro
investiram na energia do encontro! Levar o Festival para aquela cidade é apostar
na vocação natural que ela tem de receber e abrigar pessoas.
E gente pra rir junto,
graças a Deus, não faltou, principalmente nos eventos da praça, mostrando a
vocação natural do palhaço para este lugar. Boa parte do público foi pega de
surpresa. Os sorrisos foram espalhados! Intercessões artísticas como essa contribuem
pra resgatar a autoestima do povo, alguém duvida?
E como será bom quando
as autoridades municipais acordarem pra isso e compreenderem que só poderemos
fazer alguma coisa se fizermos coletivamente! Trair o outro é trair a si mesmo.
Pior que a tragédia da natureza é a tragédia da corrupção (de verbas que deveriam
ser destinadas à reconstrução da cidade).
Mas não tem nada, não!
O fim do mundo está aí! E pode saber: vai dar merda! E vai feder! E vai florir!
Parafraseando o meu
guru Waldo Motta, “Desejo que o mundo acabe em estrondos e suspiros. De gargalhadas
e alívio dos que restarem”.
Fernando Gasparini - do Observatório dos Anjos do Picadeiro
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