O título resume os últimos dias do Anjos. E se a coisa é
pica dura, pouca merda não sai.
Se antes as mesas discutiram a
função política – nos diversos níveis do entendimento da palavra política – da
figura do palhaço em um nível intelectual, vemos agora as potências
sendo empregadas nas ruas e nos palcos.
Começando
pela palhaceata que atravessou as estreitas vias públicas, interrompendo os
fluxos, gerando curiosidade, aborrecimento – para aqueles que não têm mais
tempo para brincar – e alegria – para os que ainda se permitem abrir espaços –
em plena tarde de quarta-feira. No fim do dia, tivemos a apresentação do
palhaço Tortell Poltrona, trazendo sensibilidade, transgressão e técnica capazes
de emocionar o público. No dia seguinte, mais um espetáculo de tirar o fôlego
com o ator Heinz Limaverde, misturando autobiografia, stand-up e palhaçaria.
Na rua ou
no teatro, o palhaço surge como uma figura potente, instigante, trazendo uma
injeção de sensibilidade aplicada diretamente no glúteo esquerdo. Não há pensamento
crítico, há compreensão sensível. Sejam os arrombos de uma passeata brincante, o
equilíbrio de dez cadeiras ou a história de um artista errante. Nas praças, o palhaço
atrai a atenção sem fazer o menor esforço, ele gera uma interrupção no tempo-espaço
dos passantes, uma outra lógica na vida daqueles que vivem correndo ou dos que
dormem nas ruas de concreto. A grande potência política do palhaço é dar
maleabilidade aos espíritos endurecidos, seja aborrecendo, seja fazendo sorrir
ou chorar em qualquer momento do dia.
Claro, é
necessário muito trabalho, muita técnica, muito saber, muito viagra. Esses
souberam em diferentes escalas e de diferentes formas, e outros também. Cada um
tem sua forma de seduzir, de praticar seu
freelovinho e, quando você menos esperar, te cutucará profundamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário